O surto de COVID-19 gerou uma busca por máscaras de proteção a fim de evitar contágio desse agente biológico. No momento que passar essa onda viral, certamente o brasileiro já estará acostumado ao uso de máscaras e seguirá usando, porém, por outros motivos. E pode ser que a partir de agora, e para sempre, as cidades brasileiras comecem a mostrar aquelas cenas de cidades asiáticas altamente industrializadas e poluídas, onde a população anda de máscaras de proteção nas ruas.
Os perigos da poluição atmosférica
A Organização Mundial da Saúde, com base nos dados epidemiológicos, estima que 1 em cada 9 mortes no mundo ocorre pela poluição atmosférica.
O patologista e pesquisador, Prof. Paulo Saldiva (USP) estudou a quantidade de carbono no pulmão de várias pessoas transitando, residindo ou trabalhando no centro poluído de São Paulo e mostrou que ficar 2 horas por ali equivale ao malefício de fumar 1 cigarro. Portanto, guardas de trânsito, policiais, moto-entregadores, ambulantes podem estar “fumando” e, sem saber, 4 a 5 cigarros a cada dia, em razão de seu trabalho: “Antigamente, quando em uma necropsia a gente via um pulmão cheio de carbono, preto, o mais provável é que se trataria de um fumante. Hoje não dá para dizer isso. E o que esse estudo está mostrando é o quanto respirar o ar de São Paulo é equivalente a fumar e tem impacto cumulativo” – bióloga Mariana Veras – Laboratório de Poluição do Ar da Faculdade de Medicina da USP.
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O tipo mais prejudicial de poluição é o PM 2,5 (diâmetro de 2,5 ou menos micrômetros) e resulta da queima de combustíveis de veículos e das queimadas que voam por milhares de quilômetros e o que no fim, é o que se vê em certos dias em São Paulo. Por serem finas, penetram nos pulmões e o estudo estima que causem 3,2 milhões de mortes por ano no mundo, gerando risco maior de acidentes vasculares cerebrais, problemas cardíacos e enfermidades respiratórias, como a asma.
Além disso, 90% da população mundial que vive em centros urbanos fica exposta a níveis de material particulado, que excedem níveis seguros da OMS.
Mas a poluição pode afetar a pele?
Toda fumaça de queima de combustíveis resulta em compostos cancerígenos. São basicamente o antraceno, benzopireno e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. Ao final das contas, são as mesmas substâncias que constam na fumaça do cigarro. O cigarro já tem sido demonstrado que prejudica doentes com câncer de pele. O fumante com melanoma tem prognóstico pior do que um não fumante, que tem maior chance de recuperar de tumores.
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Exatamente essas substâncias serviram para que no século XVIII, o cirurgião Percival Pott, do St Bartholomew Hospital de Londres, começasse a desconfiar e ter sido o primeiro a comprovar que produtos químicos causam câncer.
Ao atender problemas de pele em garotos órfãos que entravam para limpar chaminés – com pouca roupa ou quase nus, para não estragarem as que tinham, e que saiam pretos de fuligem – viu que muitos consultavam com feridas na pele, em geral escroto, que era onde o pó mais acumulava. Isso era estranho, pois dificilmente jovens têm câncer do tipo espinocelular, mais comum em idosos. Com isso, o cirurgião fez a relação de causa efeito da fuligem com câncer e isso se tornou histórico, sendo a primeira relação de nexo entre poluentes e câncer, não só de pele. O preto da fuligem é um concentrado de antraceno, benzopireno, da queima de combustível.
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O que fazer para preservar a pele saudável e prevenir o câncer?
Para uma pele saudável e para prevenir o câncer de pele, as máscaras de filtro de carvão são sim recomendadas às pessoas quem vive em capitais poluídas e sem orla marítima. É claro que é um último recurso, uma espécie de peça de resistência.
Na verdade, a pressão contra destruição da natureza das cidades já é intensa e deve ser aumentada. Construção de espigões de concreto é destrutiva para a saúde, sendo que a liberação e o desgaste de concreto com o tempo é uma das pragas poluentes que mais afeta os moradores, e isso já começa com a liberação de poeira de cimento na construção desses paredões cegos de concreto sem vida. Queimadas não merecem mais ser cogitadas e devem ser combatidas e condenadas.
Natureza, sempre a solução:
O recente estudo da The Nature Conservancy mostra que árvores reduzem matéria particulada no ar entre 7% e 24%. Portanto: seja para escolher onde residir, viajar ou por onde rotineiramente transitar, procure áreas verdes. Valorizar para que não sejam eliminadas e para que sejam plantadas para o futuro, são as soluções naturais mais saudáveis. Bairros de alta concentração de edifícios tendem a desvalorizar e, por esse motivo, pense nisso ao escolher onde morar.
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Estudo publicado pela The Nature Conservancy destaca que em ruas com muito tráfego, as árvores devem ser plantadas de maneira espaçada para impedir que as copas reduzam a circulação de ar.
Mais referências sobre o assunto:
- https://exame.abril.com.br/ciencia/respirar-ar-de-sp-por-2-horas-e-igual-a-fumar-um-cigarro/
- Siddartha Mukerjee O Imperador De Todos os Males Cia das Letras
- https://www.bbc.com/portuguese/geral-37868027